Sunday, February 28, 2010

Março de 2010 - Alberto Cavalcanti


O CinePUC Brasil volta de férias com um ciclo dedicado a um cineasta brasileiro cuja carreira foi construída primeiro fora do nosso país. Aqui no Brasil, Alberto Cavalcanti ficou conhecido por sua participação na criação dos estúdios da Vera Cruz. No entanto, sua carreira como diretor se inicia muito antes disso, e muito longe também.

Cavalcanti parte para a Europa ainda cedo e se junta ao movimento de vanguarda na França na década de 20. Dividindo espaço com Abel Gance, Jean Epstein e outros, Cavalcanti se torna um nome importante desse período de inovação e liberdade estética. Em 1934, ele vai para a Inglaterra a convite de John Grierson para fazer parte do GPO Film Unit, escola inglesa de documentário. A influência de Cavalcanti é decisiva para o sucesso desse movimento. Ao longo de sete anos, contribui não só como diretor, mas como técnico de som, cenógrafo, montador, entre outras funções, em filmes que hoje se tornaram marcos da história do cinema. Ainda na Inglaterra, ele é convidado a se juntar ao Ealing Studios, chamado por Mick Balcon. De novo, a presença de Cavalcanti é essencial. Elisabeth Sussex, no artigo "Cavalcanti in England", considera esses dois movimentos os únicos em que houve um estilo pioneiro dentro do cinema britânico - e Cavalcanti faz parte de ambos. Depois de alguns anos dirigindo filmes de ficção na Inglaterra, Cavalcanti retorna ao Brasil para ajudar na criação e direção dos estúdios da Vera Cruz. Para-além do conhecido fracasso da inicitiva, Cavalcanti dirige três longas no Brasil e tem papel decisivo na construção da Vera Cruz. Sua carreira ainda oscilou com algumas produções para a televisão francesa e o documentário "Um homem e o cinema", de 1977, em que ele próprio revisa sua múltipla carreira.

Como se vê, a obra de Alberto Cavalcanti é extensa e variada, e talvez possa se pensar o que ele estaria fazendo dentro de um ciclo do CinePUC Brasil, já que a maioria de seus filmes não foram feitos aqui. No entanto, Cavalcanti é brasileiro e nunca deixou de ser, seja na França, na Inglaterra ou no próprio Brasil. O que se forma ao longo de mais de 50 anos de atividade, é uma carreira sólida e orgânica, carregando traços similares desde seu primeiro filme na França ("En rade") até uma espécie de remake no Brasil, "O canto do mar".

Nas palavras de Fernando Ferreira, em artigo escrito quando do lançamento de "Um homem e o cinema", "A multiplicidade das suas preocupações estéticas e sociais e a sua busca permanente de um realismo poético, Cavalcanti depositou-as devotadamente no seu amor ao cinema, este, de fato, a sua verdadeira pátria."

Dessa forma, as quatro sessões do mês terão um título, em geral sendo exibidos mais de um filme. Todas as quintas, às 19h, na sala 102k. Aqui vai a programação:

04/03: Sessão vanguarda francesa
Filmes:
La P’tite Lili (1926, 12min)
O capitão fracasso (Le captain fracasse, 1927, 90min)

11/03: Sessão escola documentarista inglesa
Filmes:
Granton Trawler (1934, 11min)
Coal Face (1935, 12min)
Night mail (1936, 25 min)
Filme adicional: Rien que les heures (1928, 46min)

18/03: Sessão estúdios Ealing
Filmes: 48 horas (Went the day well?, 1942, 92min)
Segmento “The ventriloquist’s dummy” do filme “Na solidão da noite” (Dead of night, 15min)

25/03: Sessão Brasil
Filme: O canto do mar (1952, 84min)

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